14 outubro, 2007

13 outubro, 2007

02 outubro, 2007

Um pouco sobre Drumont

Um poeta cético e agnóstico é no mínimo insólito, mas Carlos Drummont de Andrade não foi incomum, foi único. Este mineiro nascido no começo do século XX, filho de fazendeiro, não se adaptou a disciplina do colégio religioso, sendo expulso do colégio dos jesuítas, Anchieta de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, por “insubordinação mental”. Sua carreira de escritor começou no jornalismo, colaborando com o “Diário de Minas”, mas ele se notabilizou mesmo foi como poeta, com 43 livros de poesia, durante sua vida e nove, depois de 1987, ano de sua morte.
Já em 1922, ganha 50 mil réis de prêmio pelo conto "Joaquim do Telhado" no concurso Novela Mineira. A exigência da família para que ele obtivesse um diploma, leva-o a concluir o curso de Farmácia em 1925, mas não exerce a profissão, alegando querer "preservar a saúde dos outros". No mesmo ano, foi o co-fundador de “A Revista”, veículo muito importante na consolidação do movimento modernista mineiro, seus primeiros livros de poesia porém, não possuem as características desta escola literária. Drummont não era modernista só na literatura, sua mulher Dolores Dutra de Morais, foi uma das primeiras mulheres a trabalhar num emprego, contadora numa fábrica de sapatos em Belo Horizonte.
Mas Carlos Drummont não era apenas um poeta, é o autor de um dos maiores escândalos literários do Brasil, o poema "No meio do caminho", publicado na Revista de Antropofagia de São Paulo em 1928. O primeiro livro "Alguma Poesia", em edição de 500 exemplares paga por ele mesmo, data de 1930. Três anos depois, publica "Brejo das Almas" em edição de 200 exemplares, pela cooperativa Os Amigos do Livro. O terceiro livro "Sentimento do Mundo" com tiragem de 150 exemplares, foram distribuídos apenas entre seus amigos. O Editor José Olympio é o primeiro a se interessar pela obra do poeta e publica seu quarto livro "Poesias". Em 1967, publicou "Uma pedra no meio do caminho - Biografia de um poema", coletânea de críticas e matérias resultantes do poema “No meio do caminho” ao longo dos anos.
Professor de Geografia e Português, jornalista, redator, auxiliar de Gabinete, oficial de gabinete e tradutor, foram algumas profissões desenvolvidas por Drummont durante a vida. Toda esta bagagem o credenciava a criticar os atuais escritores “Antes, as pessoas que sabiam escrever a língua se destacavam na literatura e nas artes em geral. Mas hoje há escritores premiados que não conhecem a língua natal (...) Quem hoje não sabe a língua e se manifesta mal é que aprendeu de maus professores. A decadência do ensino no Brasil é uma coisa que tem pelo menos trinta a quarenta anos - e talvez mais”.
Não candidatou-se a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, mas não a desprezava. “A Academia nunca me inspirou desprezo. Não posso desprezá-la porque não acho que é uma instituição digna de desprezo. O que há é o seguinte: não tenho espírito acadêmico, não tenho a tendência para ser acadêmico. A Academia, então, não me produz uma sensação de desprezo nem de desgosto. Apenas relativo distanciamento. Mas devo assinalar que, dentro da Academia, estão alguns dos meus melhores amigos. São companheiros de juventude, como Afonso Arinos, Abgar Renaut, Ciro dos Anjos - que não é só meu amigo: é meu compadre. Não tenho nada individualmente contra os acadêmicos. Acredito que - sendo uma instituição composta por quarenta pessoas - dificilmente, em qualquer lugar do mundo, essas quarenta pessoas serão bons escritores. Haverá, sempre, uma parcela de escritores menores e, até, de maus escritores”.
No fim da sua vida, seu maior medo era de sofrer um acidente domestico “O medo que tenho é levar uma queda, me machucar, quebrar a cabeça, coisas assim, porque, na idade em que estou, a primeira coisa que acontece numa queda é a fratura do fêmur. Isso eu receio”. A morte da filha foi um golpe muito duro no coração de 85 anos de Drummont, duas semanas depois, ele faleceu de problemas cardíacos.

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