07 maio, 2008

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03 maio, 2008

Jenipapo - A batalha que não entrou para a História

A História oficial da independência do Brasil resume-se aos eventos ocorridos a partir da Revolução Constitucionalista do Porto, que exigiu o retorno da família real para Portugal, e encerra-se em 7 de setembro de 1822, na declaração do príncipe regente D. Pedro, às margens do Ipiranga. A única luta sangrenta pela independência não consta dos livros didáticos; a Batalha do Jenipapo foi o único conflito armado com derramamento de sangue, pela independência do país. Milhares de piauienses, sem nenhum treinamento militar, lutaram com foices, enxadas e poucas armas de caça, num ato heróico, contra as forças portuguesas que contava com mais de mil soldados treinados e bem armados e mais de dez canhões.
Depois do retorno da família real para a Europa, não mais interessava às Cortes Portuguesas que o Brasil permanecesse na condição de Reino Unido, devendo retornar a condição de colônia. Para isto era necessário a mudança do poder político, administrativo, militar e judicial centralizado nas mãos do príncipe regente D. Pedro. Visando forçá-lo a regressar à Portugal, os nobres portugueses planejaram e aprovaram um plano de descentralização do poder; criando em cada província um governo independente. A Junta Provisória de Governo era composta de cinco ou sete membros, ficando as tropas de cada província sujeitas a um governador das armas, isento, e que provavelmente seria só escolhido entre os filhos de Portugal, em subordinação unicamente às Cortes de Lisboa e ao seu governo. Criavam-se desta forma, em cada província, dois centros de autoridades, um político e outro militar, que no caso da província do Piauí entraram em contradição. A manobra que pretendia esvaziar o poder do Príncipe Regente, mas, funcionou ao contrário, os políticos apoiaram D. Pedro no seu declaração de independência, enquanto os militares ofereceram certa resistência.
A política descentralizadora de poder, imposta pelas Cortes Portuguesas, levou o regente a proclamar a independência, na então província de São Paulo, a 7 de Setembro de 1822. Em algumas regiões estratégicas, se registrava grande concentração de tropas do Exército português, nas então Províncias Cisplatina, da Bahia, do Piauí, do Maranhão e do Grão-Pará, os comandantes permaneceram fieis à metrópole e ofereceram resistência a instalação de um governo brasileiro, independente de Portugal, e, das tropas portuguesas, a que ofereceu resistência ao novo regime, foi a da província do Piauí.

Porque a Província do Piauí era estratégica para Portugal

Diferente do que aconteceu nos outras províncias litorâneas do resto do Brasil, a colonização do Piauí deu-se do centro para o litoral, tanto que Oeiras era a única capital de província litorânea, que situava-se no interior. A ocupação da província se deu pelos fazendeiros do rio São Francisco, à procura de novas expansões para suas criações de gado. O governo de Pernambuco concedeu cartas de sesmarias a partir de 1674, que permitia a exploração das terras, situadas às margens do rio Gurguéia, afluente do rio Parnaíba. Um desses sesmeiros, o Capitão Domingos Afonso Mafrense, também conhecido como Domingos Sertão, fundou trinta fazendas de gado, tornando-se o mais eminente colonizador da região. Por sua própria vontade, as fazendas foram legadas, após sua morte, aos padres da Companhia de Jesus. Hábeis gerentes, os jesuítas contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento da pecuária piauiense, que atingiu seu auge em meados do século XVIII. Nessa época, os rebanhos da região abasteciam todo o Nordeste, o Maranhão e províncias do Sul. O comércio de algodão era considerado o melhor do Brasil, além disto, ainda produzia fumo, cana-de-açúcar, babaçu, carnaúba e outros produtos. Com a expulsão dos jesuítas, as fazendas de Mafrense foram incorporadas à Coroa. A partir de então, metade da receita seguia para Portugal e o restante custeava a onerosa máquina administrativa. Começou então o declínio das fazendas, juntamente com a economia piauiense.


A Batalha

Ao Major João José da Cunha Fidié coube o Governo das Armas da província do Piauí. Encarregadas de manter o norte da ex-colônia, fiel à Coroa Portuguesa, com sede em Oeiras porque 1821 o quadro financeiro da província Piauí, era muito bom, possuía o maior rebanho bovino do país. Em Parnaíba, um grupo de brasileiros patriotas, liderados por João Candido de Deus e Silva e Simplício Dias da Silva, declaram sua adesão à causa da Independência e aclamam Imperador, o Príncipe D. Pedro, a 19 de outubro 1822.
Com o objetivo de sufocar o levante em Parnaíba, Major Fidié e sua tropa, marcham para lá, cerca de 700 quilômetros distante de Oeiras. Ao chegar em 18 de dezembro 1822, encontraram a vila guardada pelo brigue Infante Dom Miguel, que tinha vindo do Maranhão, trazendo sua tropa e armamento, para ajudar o comandante Fidié. Incapazes de lutar contra as tropas portuguesas, os chefes da revolta parnaibana fogem e refugiaram-se em Granja no Ceará. Pensando ter sufocado o movimento revolucionário, o comandante Fidié desfila triunfante pelas ruas da Parnaíba. Enquanto isto, Manuel de Sousa Martins, futuro Visconde da Parnaíba, proclama o apoio à Independência e assume a presidência da Junta do Governo do Piauí, em Oeiras, no dia 24 de janeiro 1823. Decidido a castigar os revolucionários de Oeiras, o comandante da tropa portuguesa resolve retornar para a capital, com mais de 1.100 homens bem armados e 11 peças de artilharia.
Campo Maior era uma vila que fica no caminho entre Parnaíba e Oeiras e tinha aderido à independência em fevereiro de 1823. Sabendo da passagem das tropas de Fidié pela cidade a caminho para Oeiras, a população mobilizou-se angariando fundos e organizando um movimento armado de resistência aos militares portugueses. Mil e quinhentos piauienses atenderam à convocação do capitão Luís Rodrigues Chaves e a eles, se juntaram a 500 cearenses, sem fardas, todos mal armados. Só contavam com foices, espadas, chucos, facões e velhas espingardas de caça, formando a força nacionalista. Os nacionalistas dividiram-se em dois grupos que ocuparam cada uma das estradas que chegava na passagem do rio Jenipapo, o primeiro comandados pelo capitão Rodrigues Chaves e o segundo, comandado por João da Costa Alecrim, pretendiam combater contra as tropas de Fidié no rio Jenipapo, que é um rio temporário, estava seco e os brasileiros pretendiam usá-lo como trincheira. A estratégia era surpreender os militares portugueses quando eles apontassem na estrada. Entretanto, Fidié dividiu sua tropa em duas: a cavalaria seguiu pela esquerda enquanto a artilharia seguiu pela direita.
Às 9 horas da manhã do dia 13 de março de 1823, na vegetação rasteira das terras da vila de Campo Maior, aconteceu o primeiro embate entre o exército português e os matutos que formavam a força nacionalista. Os patriotas surpreenderam a cavalaria inimiga e conseguiram repelir as tropas portuguesas, porém, Fidié conseguiu atravessar o Jenipapo, escolher posição, dispor os seus homens e por em ação as suas 11 peças de artilharia que foram decisivas na batalha. Os brasileiros ainda atacaram os portugueses outras vezes, mas a artilharia inimiga abateu, sem piedade, mais de 200 homens da força nacional.
Depois de cinco horas de combate, às 14 horas do mesmo dia, os patriotas bateram em retirada deixando para trás 200 mortos e 542 homens, entre prisioneiros e feridos. Entretanto a batalha não foi só perdas para os nacionalistas. Fidié perdeu 116 soldados e 64 ficaram feridos no combate. Ele ainda perdeu a maior parte da bagagem, composta de comida, água, algumas armas e até mesmo um pequeno tesouro que trazia de um suposto saque que havia feito na cidade de Parnaíba, numa ação ousada dos cearenses comandados pelo capitão Nereu.
Aparentemente vitorioso, o comandante Fidié acampou na fazenda Tombador, distante cerca de um quilometro de Campo Maior, mas em poucos dias rumou para Estanhado, atualmente União, para depois seguir para Caxias, na província do Maranhão onde aquartelou-se e foi cercado por outra força nacionalista formada por piauienses, cearenses e maranhenses que conseguiram sua rendição no dia 31 de setembro de 1823.
Um ano depois da declaração de independência do D. Pedro, ficou garantida a unidade nacional devido ao heroísmo e a determinação do povo piauiense que deu seu sangue pelo país que não reconheceu seu sacrifício. Nem no Piauí esta parte da História é bem conhecida.
O declínio da economia piauiense no século XIX e a distância da capital do império talvez explique a omissão deste fato nos livros didáticos de História do Brasil. Enquanto Minas Gerais tem um herói, mártir do imperialismo português, que é homenageado pelo Brasil com um feriado nacional, o Piauí tem algumas centenas, porém nenhum reconhecimento pelo país ou pelos historiadores, provavelmente pela sua falta de expressão na economia, cultura e na política nacional.

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