26 julho, 2005

Eu nascí em 1963

Isto mesmo, um ano antes do golpe quase fatal sobre a liberdade e a democracia, porque elas permaneciam vivas nossa esperança. Viví minha infância e adolescência na década de 70, belos dias em que parecia que o futuro chegara, logo veio a crise do petróleo para nos acordar do sono em que navegavam nossos sonhos, chegou a hora de pagarmos os empréstimos que fomentavam nosso crescimento e o milagre acabou, mas ficou o gosto de progresso e a esperança de que se a democracia chegasse, chegaria com ela o desenvolvimento que precisávamos para melhorar nossas vidas.
No começo dos anos 80, eu já era quase adulto quando aconteceu a primeira vitória da liberdade, os metalúrgicos liderados por um sindicalista, conseguiram fazer uma greve, mesmo contra a Lei; em consequência vieram as "Diretas Já", então eu pensei, é agora que tudo vai mudar, as diretas não vieram, mas mesmo contra as expectativas, o bem vencia o mau, mesmo sendo em uma eleição indireta, depois de 21 anos, experimentavamos um governo civil, a inflação que já era alta, explodiu com as medidas econômicas tomadas pelo então ministro Dílson Funaro, os problemas políticos acabaram, mas os sociais e econômicos continuavam.
Faltava uma constituição verdadeiramente democrática para estabelecer finalmente a liberdade neste solo. A partir desta constituição, finalmente a tão esperada eleição direta para Presidente, as dezenas de candidatos deixam o povo confuso, o marketing deu certo, no segundo turno não estava o candidato em quem eu votei, já não acreditava nos finalistas e minha esperança era a de estar errado, infelizmente não estava, mais uma vez quiseram desenvolver o País por decreto, e também por decreto confiscaram nossas parcas economias, mas como era para o bem comum, fomos pro sacrifício, em pouco mais de um ano, outro golpe contra a democracia, o primeiro presidente eleito pelo povo era um ladrão, cassado pelo Congresso, assume o vice que até então ninguém sabia quem era. Pensei, somos muito inexperiente nesta coisa de democracia, na próxima, ninguém nos engana. As esperanças se renovaram quando o Ministro da Economia finalmente conseguia controlar os 1000% de inflação anual.
Nova eleição e quatro anos de relativa tranquilidade, fiquei indignado quando aprovaram a tal da "reeleição", devido a esta tranquilidade resolvemos dar-lhe mais um mandato que foi muito ruim, por que tinhamos aberto nossa economia e as crises internacionais contaminaram-na, foram 5, para quem não se lembra - México, Malásia, Rússia, 11 de setembro e finalmente Argentina, todos os que empunhavam a bandeira vermelha, diziam, é agora que a casa cai, mas conseguimos sobreviver, mesmo sofrendo.
A quarta eleição, o país que era verde, amarelo, azul e branco, ficou vermelho de esperança, o povo na rua a comemorar, como se cada cidadão estivesse tomando posse do mais alto cargo do País. Como na primeira, meu candidato fora derrotado, no segundo turno, votei no que ia perder para não me sentir mal quando a bomba explodisse. Por algum tempo senti que havia errado pela primeira vez. Foi quando as gangues brigaram, e apareceu a verdadeira face, que se escondia atrás de um discurso inflamado e demagógico. Agora eu sei finalmente porque o vermelho é a cor da bandeira, é a cor da vergonha, não a deles, mas a nossa, de temos sido tão ingênuos ao ponto de elejê-los. Cheguei a conclusão que estou certo de não confiar em discursos, e que escrita foi inventada para que os homens não neguem seus discursos.

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